terça-feira, 13 de fevereiro de 2024

Propiciação à Topofilia - Poema de Sammis Reachers

 

Jurujuba, Niterói, 2011. Sammis Reachers


Propiciação à Topofilia

“... espaços proibidos a forças adversas, espaços amados.”
Bachelard

espaços abertos
desertos
verdes semi-verdes
pelo vento municiados:

paraísos do possível

Éden desfeito ressonando fragmentário
ruído de fundo à espera no espaço
de quem lhe vibre à frequência:
um herdeiro para lugarizá-lo 

Do livro Cartas e Retornos (2021)

segunda-feira, 29 de março de 2021

CARTA AO FAROL

 


Carta ao Farol

 

Sol da boa noite

Esperança terrajeira

Palácio liberto dessas libertinagens

Que são as realezas

 

Totem de turmalina

E óleo de baleia

Para a mater solidão

 

Ímã ao homem de exceção,

Perdição da sereia

Torre pontifex

 

Tubo alquímico, construto

De magia branca minimalista

Única habitação humana

Que comporta (com conforto

Para sua densidade d’asas)

Um poeta

 

Silenciário

Notário da oceanografia

Lança de condão e luminotecnia

Oceânico elucidário

 

Norteador noturno,

Soturno mosteiro

Dum-só-monge

 

Hiperlugar, canhão

De topofilia

Lua sem minguantes

E sem volteios

 

Mirante oceamar

Caracol teso sobre as vagas

Imóbil máquina de alar

 

Estaca-mar

                Ou mor,

Poema de habitar.

 

 Do livro CARTAS E RETORNOS (2021).

Para adquirir o seu, escreva para:  sreachers@gmail.com


terça-feira, 4 de julho de 2017

Fluidores de fluxos - Percepção ambiental pela janela do ônibus


Na janela de um ônibus 

A sensação experienciada ao colocar os fones de ouvido (ouvindo uma música considerada agradável) e sentar-se à janela de um ônibus ou no banco do carona em um automóvel pode ser arrebatadora.
O prazer advindo da fluição musical soma-se ao prazer advindo da fluição espacial (a sucessão de paisagens de toda espécie) e juntos reforçam-se, criando uma sensação agradável e que nos parece bem simples, a ponto de sequer refletirmos muito sobre a mesma; mas é na verdade uma sensação com alguma complexidade, que une o visual (paisagens) o tátil (o vento no rosto/corpo/cabelos) e o auditivo (a música), gerando uma forma de percepção ambiental toda especial, uma sensação a qual nossos antepassados foram privados, nos muitos séculos precedentes. Podemos chamá-la de uma experiência de fluição de fluxo(s)?


Sobre este tipo de apreciação, você já o sentiu? Tem algo a dizer?

Uma amiga (que é artista plástica) disse o seguinte: Sim! é muito bom! A música envolve a paisagem e parece elevar a percepção sobre tudo. Parece aumentar os estímulos sensoriais e tudo fica mais vivo, eu acho.

terça-feira, 14 de março de 2017

PROGRAMA EM TESE - A RELAÇÃO DO SER HUMANO COM O LUGAR ONDE VIVE

EM TESE - A RELAÇÃO DO SER HUMANO COM O LUGAR ONDE VIVE (16/10/13)




UFPRTV - https://www.youtube.com/channel/UCX1qVmcJasysEfUxCpZpafw 

Documentário curta-metragem: O PREÇO DA TOPOFILIA!



Video produzido para disciplina de Geografia Cultural, realizada no 2º semestre do curso de Geografia- UFU (2013).

(Encontrado no youtube, sem maiores indicações de autoria. Postado por https://www.youtube.com/channel/UC6uUP9R2vzTThmwZKFJE9Rw )

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Dicas de leitura: Topofilia

Por Leonardo Luiz Silveira da Silva

Yi-Fu Tuan definiu um neologismo que trabalha com os conceitos de cultura e paisagem: a topofilia.
Para Tuan (1980),

A topofilia é um neologismo, útil quando pode ser definida em um sentido mais amplo, incluindo todos os laços afetivos dos seres humanos com o meio ambiente material. A resposta ao meio ambiente pode ser basicamente estética: em seguida, pode variar dô efêmero prazer que se tem de uma vista, até a sensação de beleza, igualmente fugaz, mas muito mais intensa, que é subitamente revelada. A resposta pode ser tátil: o deleite ao sentir o ar, água, terra. Mais permanentes e mais difíceis de expressar, são os sentimentos que temos para com um lugar, por ser o lar, o locus de reminiscências e o meio de se ganhar a vida. (TUAN, 1980, p.107)

                       A obra "topofilia" de Tuan está esgotada.
                      Esperamos pela boa vontade de alguma editora...




O conceito de topofilia está ligado a atribuição de um valor cultural a um elemento da paisagem. O neologismo de Tuan, topofilia, consegue através de um conceito expressar um significado denso, que é justamente a relação entre a paisagem, memória e cultura. O próprio Tuan escreve um outro livro chamadoPaisagens do Medo, em que um sentimento oposto ao da topofilia, visto muitas vezes como uma atribuição cultural positiva, é destacado. Para as paisagens do medo, é sugerido o termo "topofobia", uma derivação do original topofilia. Este jogo de palavras não terminou aqui. O legado de Tuan deu origem a outros termos dados por profissionais que apreciam a percepção ambiental. Neste caso, um destaque para Douglas Porteous (1988) que criou o termo topocídio, que seria a aniquilação de paisagens ou elementos dela que receberam significado cultural e que foram brutalmente aniquiladas. Porteous, no seu caso particular, utiliza o termo na ocasião da substituição gradativa de uma área residencial por outros tipos de uso.  O conceito de topocídio é muito útil hoje. Afinal, o respeito aos valores culturais de outras sociedades, sobretudos aquelas mais frágeis, é muito necessária. Para tanto, o relativismo cultural torna-se um valor muitissimo necessário como forma de garantir a pluralidade cultural, ou, pelo menos, evitar a violência de um processo de aculturação abrupto.


              Outra Obra de Tuan: A paisagem do Medo
               Este livro não está esgotado como a Topofilia.
              Em um dos seus capítulos, aborda a interessante ideia
             das sociedades sem medo, em que, por exemplo, a morte
              não é vista como assombro e o luto não existe.



O topocídio, que seria a eliminação do significado cultural de uma dada paisagem atribuído por uma determinada sociedade é um caminho sem volta para a aniquilação de uma cultura, pois expõe sua fragilidade , mediante as forças topocídicas.  Tuan escreve em topofilia (1980) um trecho que endossa este raciocínio:

A ilusão de superioridade e centralidade provavelmente é necessária para a manutenção da cultura. Quandoa  crua realidade despedaça essa ilusão, é possível que a própria  cultura decline. No mundo moderno de comuniçãoes rápidas é difícil para as pequenas comunidades acreditarem que estejam, em qualquer sentido literal, no centro das coisas, embora algo dessa fé seja necessário se elas desejam prosperar. (TUAN, 1980, p.36)

AMORIM FILHO (1999), professor que tive o prazer de ser aluno, trouxe no final do milênio a sugestão do termo topo-reabilitação, que seria justamente a recuperação da paisagem com significado cultural que foram atacadas pelas forças topocídicas.
Em suma, a contribuição de Yi-Fu Tuan foi muito importante para os estudos de percepção ambiental. Estranho o fato de que o seu neologismo - topocídio - não tenha se tornardo uma palavra mais comum, tanto cotidianamente quanto no meio acadêmico.


                                                                        Yi-Fu Tuan